Somos seres
vocacionados a infinitude, ao assemelhamento de Deus. Porém o pecado mancha a
imagem de Deus que somos nós. Muitas das vezes somos levados por uma correnteza
forte, que nos arrasta em meio as duras pedras, os arranhões tornam-se
visíveis, e caímos assim, nas atitudes do homem velho (Cf. Cl 3, 5-10), essas
atitudes nos afastam de Deus, nos afastam da Luz que é o próprio Cristo (Cf. Jo
8,12), quebramos assim, a nossa amizade com Àquele que é Tudo em todos.
Quando mergulhamos na
cegueira do pecado que nos tira a racionalidade e a graça do assemelhamento com
Deus, perdemos o sentido do viver, a Alegria verdadeira, ficando apenas o gosto
amargo de uma alegria momentânea. A carne em pecado não suporta a presença do
divino. O afastamento de Deus nos leva a caminhar pelo vale tenebroso, pela
escuridão do mais íntimo do nosso coração, o coração que antes era alimento
pelo Bem e pelo Belo, com o pecado é alimentado com tudo àquilo que não agrada
a Deus que nos escolheu e nos quis antes da fundação do mundo (Cf. Ef 1,4).
Não obstante, temos a
graça do retorno (Cf. Lc 15, 18-20), Deus nos acolhe com misericórdia e amor
(Cf. Lc 15,22-24). A graça nos é dada imerecidamente, por nós mesmo não nos
salvamos, mas é Cristo que, por pura graça, nos perdoa e nos acolhe em seus
braços, é Ele que vem ao nosso encontro, que vai a nossa procura (Cf. Mt 18,
12-13) e nos convida a descansar (Mt 11, 28-30). Através do Sacramento da
Reconciliação, que nos é dado por Cristo, através da Igreja, somos perdoados e
retornamos para um novo começo, tornamo-nos assim, homens novos, Deus nos dá a
chance de recomeçar, confia em nós. O Vaticano II afirma que “o homem é a única criatura sobre a terra a
ser querida por Deus por si mesma (Gaudium et Spes, 24).
Por isso, somos
convidados a participarmos da natureza de Deus, deixando para trás tudo aquilo
que não condiz com o ser cristão, rompendo com o pecado que nos tira do
relacionamento com Cristo Jesus. A força
para esta batalha (fazer o bem ou fazer o mal) que durará a vida toda vem do
alto (Cf. Cl 3,2-3), somos os soldados de Cristo na batalha (Cf. 2Tm 2,1.3-6),
e tragamos em nosso coração a certeza de que tudo podemos naquele que nos
fortalece (Cf. Fl 4,13). Eis a síntese do viver cristão: “Todavia, esse tesouro nós o levamos em vasos de barro, para que todos
reconheçam que esse incomparável poder pertence a Deus e não é propriedade
nossa. Somos atribulados por todos os lados, mas não desanimamos; somos postos
em extrema dificuldade, mas não somos vencidos por nenhum obstáculo; somos
perseguidos, mas não abandonados; prostrados por terra, mas não aniquilados.
Sem cessar e por toda parte levamos em nosso corpo a morte de Jesus, a fim de
que também a vida de Jesus se manifeste em nosso corpo” (2Cor 4,7-10).
Portanto, o destino
último do homem é sua divinização, em Cristo o homem se divinifica. Em Jesus Cristo
somos divinizados, pois Deus se fez homem para que o homem se divinizasse. É Deus
quem desce para que nós ascendamos, Deus desce e nós subimos. Em suma, Deus
criou um ser finito vocacionado a infinitude, o que o homem é por natureza
transcenderá por graça. Por natureza somos limitados, carne e por
transcendência alcançamos a graça.