CONFUSÕES, INCOMPREENSÕES E ESPERANÇA


A vida nos ensina que nem tudo são flores, que existem espinhos, alguns destes insistem em permanecer em nossa pele. Porém, o belo da existência humana é perceber que esses espinhos, que insistem em querer sangrar-nos, não duram para sempre, podem a qualquer momento serem arrancados e jogados fora, isso porque os espinhos não encantam, mas sim as flores, elas exalam preciosos perfumes, encantando assim, ambientes e testemunhando o que é Belo.
Vivemos em uma sociedade que cada vez mais perde o rumo de sua existência. A confusão embaça a vista, o mal é tido como bem, e o bem (infelizmente) é tido como mal. Às vezes, parece que aquilo que é impuro, baixo, medíocre vai ganhando espaço e estabelecendo seu “poder”, mas engana-se a si próprio. Essa humanidade marcada com o sinal do que passa, do que é transitório, do que não é duradouro, engana-se a si própria.
Àqueles que se deixam contaminar com sinal da mediocridade, perdem seu sentido de ser, passam assim a viver de aparências, fofocas e devaneios, buscando a todo custo um "status", um poder, derrubando ou querendo derrubar seus semelhantes, estes são capazes de qualquer coisa para ter o cargo que almejam... pobres coitados! Vivem como se não tivessem um Julgamento real e eficaz. “Que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro se vem a perder sua alma?”, eis uma pergunta basilar.
Muitos vivem sem viver, perambulam, esquecem-se de quem realmente são: filhos de Deus, criados à sua imagem e semelhança. Maculam, mancham a imago Dei. Mancham, perseguem, cometem atrocidades. Sua alma, sua vida, ele todo fica sujo de lama, e não se conforma com aqueles que se encontram com suas roupas limpas, sobra a mentira e falta a verdade. Porém, nem tudo está perdido. Àqueles que não se deixaram manchar pela infidelidade, pela incoerência, mesmo sendo perseguidos, são felizes, porque sabem que a vida não termina aqui, nosso destino final é estar com Deus, os justos vivem pela fé, vivem com sua roupa branca, alva, lutando sempre, sem nunca desfalecer.
Viver com coerência e fidelidade incomoda àqueles que são marcados pela incoerência e fugacidade de seus atos. O mundo necessita, hoje mais do que nunca, de homens que, mesmo sofrendo com a incompreensão, lutam por uma sociedade mais justa e saudável, longe de tudo aquilo que atrapalha o encontro com o Belo, com o Justo e com o Verdadeiro. A certeza do homem justo é de que ele está seguro, pois sabe que o “mal se destrói por si mesmo”, afinal, “os desejos dos malvados levam à morte”.
Portanto, sigamos em frente! Imitar a Cristo é exigente. Contudo, temos a esperança de um futuro melhor, um futuro no qual o bem será tido como bem e o mal como mal, sem confusões e conturbações. Aquele que é justo e íntegro já possui seu lugar em Deus, do contrário, aquele que vive na injustiça, na infidelidade, na incoerência, atrapalhando a vida de outros, julgando fazer o certo, mesmo estando na mentira, terá um destino aterrador, perderá o maior de todos os presentes, ou seja, a Presença de Deus.
Que a Virgem Maria, nos ajude a esperar sem desfalecer!

Jeferson Galdino de O. Lima
(I Domingo do Advento, 2015).

O pecado tira de nós o que temos de mais precioso: a graça de Deus.

Lc 15, 11-32

Somos seres vocacionados a infinitude, ao assemelhamento de Deus. Porém o pecado mancha a imagem de Deus que somos nós. Muitas das vezes somos levados por uma correnteza forte, que nos arrasta em meio as duras pedras, os arranhões tornam-se visíveis, e caímos assim, nas atitudes do homem velho (Cf. Cl 3, 5-10), essas atitudes nos afastam de Deus, nos afastam da Luz que é o próprio Cristo (Cf. Jo 8,12), quebramos assim, a nossa amizade com Àquele que é Tudo em todos.

Quando mergulhamos na cegueira do pecado que nos tira a racionalidade e a graça do assemelhamento com Deus, perdemos o sentido do viver, a Alegria verdadeira, ficando apenas o gosto amargo de uma alegria momentânea. A carne em pecado não suporta a presença do divino. O afastamento de Deus nos leva a caminhar pelo vale tenebroso, pela escuridão do mais íntimo do nosso coração, o coração que antes era alimento pelo Bem e pelo Belo, com o pecado é alimentado com tudo àquilo que não agrada a Deus que nos escolheu e nos quis antes da fundação do mundo (Cf. Ef 1,4).

Não obstante, temos a graça do retorno (Cf. Lc 15, 18-20), Deus nos acolhe com misericórdia e amor (Cf. Lc 15,22-24). A graça nos é dada imerecidamente, por nós mesmo não nos salvamos, mas é Cristo que, por pura graça, nos perdoa e nos acolhe em seus braços, é Ele que vem ao nosso encontro, que vai a nossa procura (Cf. Mt 18, 12-13) e nos convida a descansar (Mt 11, 28-30). Através do Sacramento da Reconciliação, que nos é dado por Cristo, através da Igreja, somos perdoados e retornamos para um novo começo, tornamo-nos assim, homens novos, Deus nos dá a chance de recomeçar, confia em nós. O Vaticano II afirma que “o homem é a única criatura sobre a terra a ser querida por Deus por si mesma (Gaudium et Spes, 24).

Por isso, somos convidados a participarmos da natureza de Deus, deixando para trás tudo aquilo que não condiz com o ser cristão, rompendo com o pecado que nos tira do relacionamento com Cristo Jesus.  A força para esta batalha (fazer o bem ou fazer o mal) que durará a vida toda vem do alto (Cf. Cl 3,2-3), somos os soldados de Cristo na batalha (Cf. 2Tm 2,1.3-6), e tragamos em nosso coração a certeza de que tudo podemos naquele que nos fortalece (Cf. Fl 4,13). Eis a síntese do viver cristão: “Todavia, esse tesouro nós o levamos em vasos de barro, para que todos reconheçam que esse incomparável poder pertence a Deus e não é propriedade nossa. Somos atribulados por todos os lados, mas não desanimamos; somos postos em extrema dificuldade, mas não somos vencidos por nenhum obstáculo; somos perseguidos, mas não abandonados; prostrados por terra, mas não aniquilados. Sem cessar e por toda parte levamos em nosso corpo a morte de Jesus, a fim de que também a vida de Jesus se manifeste em nosso corpo” (2Cor 4,7-10).

Portanto, o destino último do homem é sua divinização, em Cristo o homem se divinifica. Em Jesus Cristo somos divinizados, pois Deus se fez homem para que o homem se divinizasse. É Deus quem desce para que nós ascendamos, Deus desce e nós subimos. Em suma, Deus criou um ser finito vocacionado a infinitude, o que o homem é por natureza transcenderá por graça. Por natureza somos limitados, carne e por transcendência alcançamos a graça. 

Olhando tua Cruz Senhor...


Olhando tua Cruz Senhor
vejo um Homem-Deus, um Deus-Homem
com seu Corpo chagado e ferido.
Olho e contemplo Senhor tua dor e teu sofrimento.
Teu Corpo pendendo na Cruz,
Teu Corpo chagado na Cruz,
Teu Corpo sofrido na Cruz,
Teus braços abertos na Cruz,
Tuas mãos cravadas na Cruz,
Teus pés cravados na Cruz.
Olho... Contemplo... e busco compreender: Por que tão grande entrega? Por que esse Homem-Deus morreu e sofreu na Cruz?
E Tu falas ao meu coração: "Foi por ti meu filho, foi por ti que me deixei ser tão chagado e ferido!"
E isso me desconcerta...
Compreendo que esse Deus é grande e fiel e que no seu sangue derramado na Cruz salvou toda a humanidade decaída, salvou  a mim, salvou a ti!
Do teu peito furado na Cruz, pela lança do soldado nasceu Senhor tua Esposa, tua amadíssima Esposa, tua Ecclesia: A Igreja!
Olhando tua Cruz Senhor...
Teu Corpo na Cruz Senhor...
Teu Corpo chagado e sofrido na Cruz...
E compreendo que é o caminho de todo cristão...

Jeferson Galdino
08/05/2013
(Dia de Renovação da Total Consagração à Jesus pelas mãos santas da Virgem Maria).

A fragmentariedade do amor



Por Jeferson Galdino

Vivemos num mundo que se encontra fragmentado, mundo este que fragmentou um dos sentimentos mais belos que existe, fragmentou o sentimento do amor e nós somos responsáveis por isso, porque os nossos atos acarretam sérias consequências. Hoje há uma certa exacerbação do eros, fugindo assim, do real sentido desse amor que parte em si apenas da prevalência do corpo humano, esquece-se cada vez mais que o amor não é apenas um inebriamento descontrolado, mas é também agape, eros e agape são, ambos dimensões do amor, compreendido eficazmente torna-se uma unidade na dualidade.

O Papa Emérito Bento XVI em sua primeira encíclica "Deus caritas est" (Deus é amor) aprofunda o tema do amor e busca purificar o sentido do amor eros que foi deturpado nos últimos tempos, ele nos diz que  "o eros degradado a puro sexo torna-se mercadoria, torna-se simplesmente uma 'coisa' que se pode comprar e vender; antes o próprio homem torna-se mercadoria". Precisamos, urgentemente, purificar o sentimento do amor! Juntar os cacos, os pedaços desse amor que foi fragmentado e reduzido apenas ao prazer momentâneo, ao inebriamento da "loucura divina". Bento XVI nos mostra que é imprescindível apresentar no mundi atual o eros purificado, ou seja, é preciso purificar essa dimensão do amor, pois "o eros quer nos livrar 'em êxtase' para o Divino, conduzir-nos para além de nós próprios".

Dessa forma, precisamos apresentar o amor em seu sentido mais puro e eficaz. o amor não é uma fragmentariedade, mas uma unidade entre o eros e a agape, como bem nos mostra o Papa Emérito Bento XVI. É imprescindível para o viver cristão e para o viver em si mesmo, compreender esta unidade, pois o amor é um dar-se ao outro, é um renunciar a si próprio, o doar-se  exige renúncia de ambos os lados, tanto do homem como da mulher, é a renúncia do ser humano em si. "Agora o amor torna-se cuidado do outro e pelo outro. Já não se busca a imersão no inebriamento da felicidade; procura, em vez disso, o bem do amado: torna-se renúncia, está disposto ao sacrifício, antes, procura-o" (Deus Caritas est, 07).

Assim sendo, a fragmentariedade do amor na sociedade hodierna encontra sua unidade, sua junção, sua resposta no amor de Deus pelo homem, pela humanidade. Com isso, o próprio Papa nos afirma: "esta unificação não é confundir-se, um afundar-se no oceano anônimo do Divino; é unidade que cria amor, na  qual ambos -Deus e o homem - permanecem eles mesmos, mas tornando-se plenamente uma coisa só" (Deus caritas est, 10). Portanto, percebemos com toda essa reflexão que "o amor cresce através do amor", o eros e a agape formam uma unidade eficaz que constitui e dá sentido a todo o viver humano.







Pobre Bento XVI



A simplicidade e a humildade serão, de fato, características marcantes do pontificado do papa Francisco. Praticamente toda reportagem faz questão de ressaltar esses pontos, que são, realmente, elogiáveis. No entanto, a maior parte dos relatos da imprensa também faz questão de estabelecer um antagonismo entre Francisco e seu antecessor, Bento XVI. Não basta saber que o anel do novo papa é de prata, banhado a ouro; é preciso citar o de Ratzinger, feito de ouro maciço. Elogia-se o papa que mantém a cruz peitoral de ferro dos seus tempos de bispo, ao mesmo tempo em que se lembra que Bento XVI usava cruzes de ouro. A impressão é de que se pretende levar o leitor a pensar “esse, sim, é um bom papa, não é como o anterior”, como se um conclave fosse um concurso de simpatia.

O mote começa a beirar o exagero quando cerimônias como a do início do pontificado são elogiadas por sua “simplicidade” em contraposição às liturgias de Bento XVI. Na verdade, a missa em quase nada foi diferente do que teria sido se o papa anterior a tivesse celebrado. É verdade que o novo pontífice não parece demonstrar o mesmo interesse pela liturgia que tinha Bento XVI, mas é preciso levar em consideração que Ratzinger jamais viu nas vestes litúrgicas um instrumento de ostentação e autopromoção. Sua visão da beleza como elemento apologético está bem documentada em sua obra. E, simplicidade por simplicidade, Bento sempre fez questão de usar adereços litúrgicos – cada um deles carregado de simbologia, ou seja, não se trata de mero enfeite – já usados por outros papas e pertencentes ao Vaticano, com custo zero.

Francisco se sente muito à vontade entre a multidão, mas é até injusto comparar um pontífice com décadas de experiência pastoral com um acadêmico introvertido que fez praticamente toda a sua carreira eclesiástica em universidades e na Cúria Romana. E, mesmo assim, Bento nunca fugiu dos fiéis ou nunca se mostrou avesso ao contato com as pessoas. O “abraço coletivo” que ganhou dos dependentes de drogas na Fazenda Esperança, em Guaratinguetá (SP), é um dos momentos mais tocantes de sua visita ao Brasil, em 2007.

A julgar pelas repetidas menções que faz a seu “amado predecessor”, muito provavelmente o próprio papa Francisco rejeitaria comparações de estilo com a intenção de diminuir Bento XVI ou fazê-lo parecer fútil com suas cruzes douradas e sapatos vermelhos. Mas é difícil imaginar que os elogios ao papa simples e humilde vão continuar quando ele começar a se pronunciar sobre os tais “temas polêmicos” a respeito dos quais a imprensa sempre espera, em vão, por mudanças. Aí se perceberá que Bento XVI e Francisco não são tão diferentes quanto parecem.

* Publicado originalmente em Gazeta do Povo.

Bento XVI: o Papa da Humildade!




Nestes últimos minutos do pontificado do Papa Bento XVI, gostaria de expressar minha estima, meu respeito e minha reverência a este homem que dá um belo testemunho de humildade ao deixar a Cátedra de Pedro. Enfim, gostaria de transmitir-vos (como muitos sabem) meu amor pelo Sumo Pontífice, amor este que foi colocado em meu coração pelo próprio Jesus Cristo.

No início de seu ministério petrino percebemos sua profunda humildade: “Neste momento, eu, frágil servo de Deus, devo assumir esta tarefa inaudita, que realmente supera qualquer capacidade humana. Como posso fazer isto? Como serei capaz de o fazer? (...) O meu verdadeiro programa de governo é não fazer a minha vontade, não perseguir ideias minhas, pondo-me contudo à escuta, com a Igreja inteira, da palavra e da vontade do Senhor e deixar-me guiar por Ele, de forma que seja Ele mesmo quem guia a Igreja nesta hora da nossa história.”[1]

Trago dentro de mim que uma vida doada ao Reino de Deus é uma vida feliz, e tenho a certeza que esta felicidade preenche todo o coração, pois este mesmo coração se encontra inquieto enquanto não repousa em Deus, como bem nos lembra Santo Agostinho. Bento XVI foi esta pessoa que buscou na sua vida, no seu pontificado a felicidade, felicidade esta que como ele mesmo nos lembra em sua primeira encíclica Deus Caritas est, tem um nome, é uma pessoa, Jesus Cristo.

Ele soube guiar a barca de Pedro mesmo quando os ventos eram contrários, como ele mesmo nos afirma em sua última catequese: “senti-me como São Pedro com os Apóstolos na barca no mar da Galileia: o Senhor nos doou tantos dias de sol e de leve brisa, dias no qual a pesca foi abundante; houve momentos também nos quais as águas eram agitadas e o vento contrário, como em toda a história da Igreja, e o Senhor parecia dormir. Mas sempre soube que naquela barca está o Senhor e sempre soube que a barca da Igreja não é minha, não é nossa, mas é Sua[2].

Aquele que daqui a uma hora será o nosso Papa Emérito, amou a Igreja de Cristo mesmo nos momentos de sérias decisões, aliás, continuará amando até os últimos suspiros de sua vida, como ele mesmos nos diz: “Amar a Igreja significa também ter a coragem de fazer opções difíceis, árduas, tendo sempre em vista o bem da Igreja e não nós mesmos”[3]. Uma vida doada à Vinha do Senhor, um fiel servidor da Igreja Católica, um homem que sacudiu o mundo com suas palavras de renúncia: “Depois de ter examinado repetidamente a minha consciência diante de Deus, cheguei à certeza de que as minhas forças, devido à idade avançada, já não são idôneas para exercer adequadamente o ministério petrino. Estou bem consciente de que este ministério, pela sua essência espiritual, deve ser cumprido não só com as obras e com as palavras, mas também e igualmente sofrendo e rezando” [4].

O nosso querido papa nos deixa o legado de um verdadeiro homem de Deus, doado ao serviço da Igreja do Senhor e ao próximo, preocupado com a juventude, e assim ele nos diz: “Hoje, não poucos jovens duvidam profundamente que a vida seja um bem, e não veem com clareza o próprio caminho. De um modo geral, diante das dificuldades do mundo contemporâneo, muitos se perguntam: E eu, que posso fazer? A luz da fé ilumina esta escuridão, nos fazendo compreender que toda existência tem um valor inestimável, porque é fruto do amor de Deus. Ele ama mesmo quem se distanciou ou esqueceu d’Ele: tem paciência e espera; mais que isso, deu o seu Filho, morto e ressuscitado, para nos libertar radicalmente do mal. E Cristo enviou os seus discípulos para levar a todos os povos este alegre anúncio de salvação e de vida nova”[5].

Assim sendo, o Papa Bento XVI deixará saudades, disso temos certeza! Mas deixará, sobretudo um exemplo de um homem que soube em todos os momentos de sua vida viver o Evangelho.Foi o protótipo de um homem que soube em sua vida fazer a vontade de Deus, viveu o Fiat voluntas Tua! E continuará a viver. Obrigado Senhor pelo papa que nos destes, que destes a tua Igreja, obrigado pelo sucessor de Pedro!

Encerro esta reflexão de agradecimento pelos quase oito anos de pontificado do Papa Bento XVI com as próprias palavras dele em sua última catequese enquanto ainda exercia o ministério petrino: “Queridos amigos! Deus guia a sua Igreja, a apoia mesmo e sobretudo nos momentos difíceis. Não percamos nunca esta visão de fé, que é a única verdadeira visão do caminho da Igreja e do mundo. No nosso coração, no coração de cada um de vós, haja sempre a alegre certeza de que o Senhor está ao nosso lado, não nos abandona, está próximo a nós e nos acolhe com o seu amor. Obrigado!”[6]


Por Jeferson Galdino



[1] Homilia do Papa Bento XVI no início do seu ministério petrino, no dia 24 de Abril de 2005.
[2] Última Catequese de Bento XVI, na Praça São Pedro no dia 27 de Fevereiro de 2013.
[3] Ibdem.
[4]  Declaração de Renúncia, no Consistório para algumas Causas de Canonização, no dia 11/02/2013.
[5] Mensagem Do Papa Bento XVI para A XXVIII Jornada Mundial Da Juventude No Rio de Janeiro, em Julho de 2013.
[6] Última Catequese de Bento XVI, na Praça São Pedro no dia 27 de Fevereiro de 2013.

A Beleza, a Liturgia e o Canto na Exortação Apostólica Pós-sinodal “Sacramentum Caritatis”, do Sumo Pontífice Bento XVI





                                                                      Por Jeferson Galdino de Oliveira Lima[1]
O Sumo Pontífice Bento XVI, em sua exortação apostólica pós-sinodal Sacramentum Caritatis faz uma reflexão sobre o Sacramento da Caridade. Por ser a doação total de Jesus Cristo aos seus amigos, é o amor maior, o alimento no qual está contido a plena verdade e a autêntica liberdade que o ser humano pode alcançar.

Bento XVI vem aprofundar pontos baluartes da fé cristã, dentre eles: Beleza e liturgia, arte da celebração e o canto litúrgico. Salienta que é imprescindível viver a Eucaristia como mistério da fé autenticamente celebrado, mostrando assim, que a fonte da fé cristã e da liturgia eucarística parte de um mesmo acontecimento que é a doação que Cristo fez de si próprio no mistério pascal.

Com relação à beleza e a liturgia, o papa vem enfatizar que estão justapostas entre si. Um dado interessante que ele apresenta é que a beleza de Cristo atrai de uma maneira profunda e não como um mero esteticismo, por ser a verdade que alcança toda a criatura, a qual atrai o ser humano à sua verdadeira vocação, o amor. Outrossim, sustenta que a beleza não é um fator decorativo da ação litúrgica, mas seu elemento constitutivo, enquanto atributo do próprio Deus e da sua revelação.

O Santo Padre mostra a necessidade de superar a separação entre a arte da celebração, que é a arte de celebrar retamente e a participação plena, ativa e frutuosa de todos os fiéis. Apresenta o bispo como o liturgista por excelência da sua Igreja local, de acordo com a Sacrossanctum Concilium, 41, bem como, suas funções enquanto o litúrgo.  Apresenta ainda o valor que se deve ter com as normas litúrgicas, como por exemplo: a harmonia no rito, nas vestes litúrgicas e no lugar sagrado.

Sendo bastante profundo, mas ao mesmo tempo apresentando uma rica simplicidade em sua exortação, o papa Bento XVI traz a importância para uma correta arte da celebração, que é a atenção a todas as formas de linguagem previstas na liturgia, como por exemplo: palavra e canto, gestos e silêncios, movimento do corpo, cores litúrgicas dos paramentos. Segundo ele, a liturgia possui por sua natureza diversos níveis de comunicação que lhe permitem cativar o ser humano na sua totalidade. Por isso, o papa vem mostrar a importância da simplicidade dos gestos e a sobriedade dos sinais que, segundo ele, comunicam e cativam mais do que o artificialismo de adições inoportunas.

Outrossim, é apresentado na exortação apostólica a importância da atenção e da obediência do próprio rito, o qual manifestam a vontade que o ministro tem de acolher com gratidão o dom inefável do próprio sacramento. Outro dado importante que é levantado na presente exortação é a profunda ligação entre a beleza e a liturgia, que por sua vez, devem levar o homem a considerar todas as expressões artísticas colocadas ao serviço da celebração.

O Sumo Pontífice sustenta também a importância da arquitetura das igrejas que tem como finalidade oferecer à Igreja que celebra os mistérios da fé, o espaço mais digno, mais idôneo. A natureza do templo cristão define-se precisamente pela ação litúrgica nele celebrada. Ressalta ainda a importância da arte sacra, como a pintura, a escultura e a iconografia. Sustenta que “é indispensável que, na formação dos seminaristas e dos sacerdotes, se inclua, entre as disciplinas importantes, a História da Arte com especial referimento aos edifícios de culto à luz das normas litúrgicas” [2]. E que: “é necessário que tudo o que tenha a ver com a Eucaristia, haja gosto e beleza” [3].

Por fim, Bento XVI mostra a importância do canto litúrgico. Mostra que em sua história a Igreja criou e continua a criar, música e cânticos que constituem o patrimônio da fé e do amor. Vale ressaltar ainda, que em liturgia não vale qualquer tipo de canto, mas torna-se imprescindível a escolha de cânticos que estejam de acordo com o mistério celebrado, respeitando assim o real sentido da liturgia. Pede uma valorização pelo canto gregoriano e sustenta que é o cântico próprio da liturgia romana.

Percebe-se, portanto, que em sua reflexão, o papa Bento XVI busca mostrar quão rica e profunda é a liturgia da Igreja, com seus ritos, gestos, cânticos e símbolos, os quais levam o ser humano para além do que ele possa imaginar. E com isso podemos afirmar com Santo Agostinho que “o homem novo conhece o cântico novo (...) manifestação de alegria e um sinal de amor”.




[1]  Seminarista da Diocese de Paulo Afonso-BA, bacharelando do curso de Teologia da Faculdade Arquidiocesana de Feira de Santana-BA.
[2] Sacramentum Caritatis, 41.
[3] Ibidem.

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